Direitos das Mulheres

Defensorias Públicas questionam Ministério da Saúde por divulgação de guia que cria entraves para acesso ao aborto legal

Embora não tenha caráter obrigatório, documento do governo federal tem o potencial de produzir desinformação e restrição do direito de mulheres e meninas, avaliam órgãos

Publicado em 23 de Junho de 2022 às 18:22 | Atualizado em 23 de Junho de 2022 às 18:22

Na avaliação dos/as autores/as do documento encaminhado ao Ministério, o guia, embora não tenha caráter obrigatório, tem o potencial de produzir desinformação e restrição do direito de mulheres e meninas

Na avaliação dos/as autores/as do documento encaminhado ao Ministério, o guia, embora não tenha caráter obrigatório, tem o potencial de produzir desinformação e restrição do direito de mulheres e meninas

A Defensoria Pública de SP, em conjunto com as Defensorias de outras 12 unidades da Federação e a Defensoria Pública da União, enviou ao Ministério da Saúde um documento questionando o teor de um guia divulgado pela pasta contendo diversas barreiras para interrupção da gestação mesmo em casos permitidos legalmente. O material divulgado pelo Ministério afirma ainda, entre outros itens contestados, que todo aborto é crime, sendo os casos permitidos classificados como “excludente de ilicitude”.
 
O guia, um material técnico acerca do aborto para orientar profissionais de saúde, teve uma versão preliminar divulgada no início do mês. Dentre alguns dos pontos contestados pelas Defensorias estão a limitação da idade gestacional sem evidências científicas, o risco de quebra do sigilo, a limitação da interrupção de gestação em hipóteses de inviabilidade da vida extrauterina e a interpretação equivocada de tratados internacionais de que o Brasil é signatário. 
 
Na avaliação dos/as autores/as do documento encaminhado ao Ministério, o guia, embora não tenha caráter obrigatório, tem o potencial de produzir desinformação e restrição do direito de mulheres e meninas. Apontam ainda que o material elaborado pela pasta da Saúde se baseia em julgamentos morais, sem respaldo científico. Por esses motivos, foi enviada uma recomendação de que o órgão corrija tais informações. 
 
"As orientações divulgadas pelo Ministério da Saúde, de forma preliminar, não cumprem a finalidade a que se destinam, que é servir de guia para apoiar profissionais e serviços de saúde quanto às abordagens atualizadas sobre acolhimento e atenção qualificada baseada nas melhores evidências científicas e nas estatísticas mais fidedignas em relação à temática", destacaram. Pela Defensoria paulista, assinam o documento as Defensoras Paula Sant’Anna Machado de Souza, Nálida Coelho Monte e Tatiana Campos Bias Fortes, do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres.
 
As Defensorias solicitam ainda o adiamento da audiência pública designada para o dia 28/6 para tratar do tema. O encontro foi anunciado com apenas 6 dias de antecedência e não prevê a possibilidade de participação remota. Segundo consta na recomendação, o objetivo do adiamento é garantir a ampla participação da sociedade civil, devendo a audiência ser realizada em formato híbrido – presencial e virtual –, com convites remetidos a representantes de entidades médicas, dos conselhos de psicologia e serviço social, sociedades médicas, professores/as com expertise na área em debate, associações de pacientes, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, OAB e Defensorias Públicas.