Novela

Ator Jean Paulo Campos, de Dona de Mim, fala em entrevista exclusiva sobre experiência no papel de Defensor Público

Estudante de Direito na novela Vai na Fé, personagem Yuri retorna como Defensor Público em Dona de Mim, de Rosana Svartman, na TV Globo

Publicado em 22 de Dezembro de 2025 às 18:40 | Atualizado em 22 de Dezembro de 2025 às 18:41

Entrevista com o ator Jean Paulo Campos, de Dona de Mim e Vai na Fé (TV Globo)

Entrevista com o ator Jean Paulo Campos, de Dona de Mim e Vai na Fé (TV Globo)

Em entrevista exclusiva à Defensoria Pública de SP, o ator, apresentador e vocalista Jean Paulo Campos contou um pouco sobre a experiência de interpretar um Defensor Público na novela Dona de Mim, em exibição na TV Globo.  

O artista de 22 anos atendeu a um convite feito pela equipe de comunicação da instituição após ele interagir em uma publicação da Defensoria nas redes sociais com cenas do folhetim e de Vai na Fé, em que Yuri, personagem de Jean Paulo, era um estudante de Direito. 

Na conversa, o ator falou sobre como tem sido interpretar esses papéis nas novelas da autora Rosane Svartman, a importância do direito de defesa e da Defensoria para garantir acesso à justiça, a preparação para os papéis e o potencial de produções audiovisuais com tamanha envergadura chegarem a um grande público, entre outros temas. Confira abaixo! 

 

Como foi a preparação para o personagem Yuri, primeiro em Vai na Fé, como estudante de Direito, e depois em Dona de Mim, já como Defensor Público? 

Foi uma preparação acho que até mais longa que o normal para esses tipos de produções. A gente teve bastante tempo para trabalhar várias questões, seja a parte do estudante de Direito, com todas as coisas. A gente fala que ficou profissional em "Vigiar e Punir” [obra de Michel Foucault muito estudada em cursos de Direito].  

Também tem as outras coisas, de ser um aluno negro numa faculdade pública. A gente teve bastante tempo para estudar isso bem tranquilo e chegar nas gravações com um pouco mais de certeza, porque a gente nunca chega 100%. Costumo dizer que a gente chega a 100% do personagem só quando termina de fazê-lo. Aí a gente fala "putz, acho que agora eu entendi como é fazer o Yuri”, nesse meu caso. 

E foi uma preparação incrível, porque a gente estava num elenco muito bom em Vai na Fé, primeiramente. Todo mundo querendo que desse muito certo e muito junto. A Carolina Dieckmann estava com uma responsa imensa de fazer nossa professora na faculdade. Então, cara, se teve alguém que estudou ali, foi ela, porque ela falava demais, com uma propriedade que um professor deve ter. 

Então, isso daí realmente é louvável. A gente consegue ter um pouquinho da noção de como é um estudante de Direito e um professor. Realmente tem que ter um HD, uma memória SSD bizarra de vocês que estudam isso. Mas foi muito legal realmente se aprofundar nesse mundo. 

E agora, fazendo o Yuri em Dona de Mim, pô, o dobro para mim, principalmente. Aí eu consegui ver um pouquinho do que a Carolina passava na novela sendo a professora, porque ali eu já tinha aprendido tudo que era para aprender para exercer esse papel da Defensoria Pública. Realmente tem que falar com uma propriedade, então, tive que pesquisar muitas palavras que não estavam no meu vocabulário, aquele famoso juridiquês que as pessoas de fora nem imaginam que é algo falado demais, e tudo isso tinha que estar numa abocanhadura muito tranquila para o meu personagem. Ele estava fazendo a função dele, e muito bem, aí deu certo. 

 

Como tem sido para você interpretar um Defensor Público? Como tem se sentido? 

Olha, eu confesso que no início das gravações eu penava muito para pegar o texto, e era algo com que eu super estou acostumado desde pequeno. E, se você fala uma palavra ali no texto que não está acostumado a falar ou até mesmo não sabe o significado, cara, você se perde na atuação por completo. 

Porque quando eu estava passando o texto, e às vezes eu tinha uma palavra ali que eu não entendia nada, eu dava uma pesquisada e mudava completamente a entonação do que estava falando, porque eu entendia de fato o que estava querendo ser trazido. 

E o Yuri realmente traz esse juridiquês, que é do profissionalismo, mas ele também tem um didatismo de explicar para alguém que não faz ideia. Então, quando o Yuri estava falando com o Ryan, tinha essa preocupação de falar de forma profissional, que é necessária, mas também de forma didática, para a pessoa entender. Achar esse meio termo foi um trabalho muito legal que eu fui fazendo ali aos poucos e ajustando até o fim da novela. 

 

Qual a importância de novelas como Vai na Fé, Dona de Mim, Vale Tudo etc., que têm um alcance enorme de público, abordarem temas como os direitos das pessoas, acesso à justiça, direito de defesa e Defensoria Pública? 

É de uma importância enorme, cara. E confesso que a gente não imagina, os atores não imaginam o quanto as novelas vibram na vida das pessoas, que estão mais no cotidiano delas do que outros tipos de arte. As pessoas estão vendo a gente todos os dias nas casas delas. 

E eu recebi até uma mensagem de um menino que se identificou muito com o personagem do Yuri. Ele também estava estudando Direito e se sentiu muito identificado com a parada, a ponto de mandar uma baita mensagem, falando "cara, você não tem noção de como é importante. Eu sei que você é o ator e tudo mais, você não é advogado de fato, mas você estava me representando ali”. 

E acho que essa é a identificação principal, que bate do ator, da novela com a pessoa de fora. E também trazer as discussões. Acho que, mais importante que tudo, se concorda ou não, a função realmente da arte é gerar essas discussões e esses debates, sempre saudáveis, de preferência, que realmente fazem a nossa sociedade vibrar e acontecer. 

E a gente não tem noção de quanto isso afeta na vida das pessoas. Tanto que eu tive noção um pouquinho nesses tempos, justamente por vocês terem me mandado a mensagem aqui, querer trocar esse papo. E eu falo “caraca, cara, olha isso”. 

Eu não sou advogado, e muito longe disso, eu sou ator, mas realmente o nosso papel consegue afetar âmbitos enormes da sociedade. Para mim, é a coisa mais legal de todas. 

 

Que recado você poderia deixar para as pessoas que não têm recursos financeiros para arcar com o serviço de um advogado e precisam da Defensoria Pública? 

O Yuri me trouxe muito disso, até antes de Dona de Mim e Vai na Fé, que era uma coisa que frisaram sempre pra gente, a questão de como funciona mesmo a parada das leis e de que realmente o que vale é o que está escrito no papel. 

Então, cara, independente de quem seja e do que foi, realmente precisa ter o direito à resposta, precisa ter o direito à defesa. Principalmente para as pessoas que não têm essa condição, a Defensoria Pública faz uma diferença enorme e, vivendo um Defensor Público na sequência da novela, eu percebi isso, porque o personagem do Ryan tinha ficado muito tempo, na cadeia lá e preso, passando coisas horríveis. 

E aí, realmente, chegou um Defensor Público que estava ali para mudar o caso dele, para fazer valer o que é para valer. E esse é o principal, então é muito louvável a profissão de todos os Defensores Públicos, de todos os advogados, porque é uma baita responsa. E eu consegui sentir 1% aí. 

 

Você mudou alguma coisa na visão que você tinha sobre esse serviço, o trabalho prestado pela Defensoria Pública?

Eu acho que mudei bastante, acho que até antes mesmo na novela, porque a gente fica com uma coisa de “pô, cara, essa pessoa que fez uma maldade tremenda e, pô, ninguém vai defender ela ali”.  

Achei muito legal poder vivenciar isso, ver que as coisas têm um processo e esse processo precisa ser feito da melhor forma possível para que realmente, se precisar, ter uma pena. Que tem a pena certinha e que, se não era para ter a pena, também vamos rever. Então é muito legal. Esse rito todo é muito importante.   

 

E para as pessoas que almejam a carreira de Defensora Pública, de Defensor Público, o que você diria? 

Olha, o Yuri, em Vai na Fé, foi descobrindo esse sonho dele de se tornar um Defensor Público, muito por conta do que ele viveu, e eu creio que muitas das pessoas que vão prestar concurso, que realmente querem essa profissão, se identificam muito por alguma coisa que aconteceu na história delas, alguma coisa que viram. Muitas vezes a novela também pode se tornar isso. 

E, cara, é de extrema importância mesmo essa profissão, tem que ir para cima. Claro que a gente não tem como deixar de uma forma dicotômica, a coisa da estabilidade da profissão e de só fazer o bem. A gente sabe que precisa das duas coisas, mas acho que é para nunca perder esse olhar realmente de fazer a diferença na sociedade. 

Você mudando um pouquinho ali, mudando a vida de uma pessoa, você está mudando muita coisa, cara. Então essa profissão realmente é muito nobre por conta disso, então vai para cima. Espero que eu consiga incentivar as pessoas da melhor forma a seguirem o sonho de vocês, que realmente é muito nobre e faz a diferença na sociedade de uma forma tremenda. 

 

Agradecemos muito a sua participação e desejamos mais sucesso ainda na sua carreira! 

Muito obrigado! Eu fico feliz demais realmente, mais uma vez agradecendo aí o convite de vocês, que realmente foi muito legal, e eu também fiquei muito surpreso com tudo isso. E cada vez mais sucesso para vocês e, com certeza, vocês já sabem disso, realmente vocês fazem muita diferença na vida de muitas pessoas. E vamos para cima, vai dar tudo certo! 

 

Entrevista realizada por Fábio Freitas, assessor de comunicação, Giovanna Bandeira e Nathalia Rufino, estagiárias de comunicação da DPE-SP