Defensoria recebe cerca de 150 participantes da sociedade civil e do poder público no primeiro fim de semana do IX Ciclo de Conferências
Eventos foram realizados nas cidades de Araçatuba, Ferraz de Vasconcelos e Presidente Prudente, na sexta-feira e no sábado
Publicado em 14 de Agosto de 2023 às 18:37 | Atualizado em 14 de Agosto de 2023 às 18:37
Pré-Conferência de Araçatuba | Foto: Fábio Freitas
No último final de semana, a Defensoria Pública de SP reuniu cerca de 150 participantes, entre representantes da sociedade civil e do poder público, na largada da nona edição do Ciclo de Conferências da instituição, com eventos nas cidades de Araçatuba, Ferraz de Vasconcelos e Presidente Prudente.
A cada dois anos, a Defensoria paulista promove um Ciclo de Conferências para ouvir a população e receber propostas de atuação. A diferença desta vez em relação ao ciclo anterior é o retorno ao modelo de eventos presenciais, já que em 2021, no auge da pandemia de Covid-19 e em meio às restrições sanitárias, foi necessário estabelecer um novo formato, com encontros online.
“Depois de muita expectativa com o retorno presencial, concluímos o final de semana com ampla participação da sociedade e agradecemos muito por essa participação”, avaliou a defensora pública Renata Moura Gonçalves, assistente da Primeira Subdefensoria Pública-Geral.
“Pudemos dialogar com vários segmentos da população, em espaços de construção coletiva, e ver o fortalecimento dos vínculos entre a população, defensores e defensoras”, disse a ouvidora-geral, Camila Marques.
Início do IX Ciclo
O pontapé inicial do Ciclo de Conferências foi na cidade de Araçatuba, na noite de sexta-feira (11/8). Para sediar o evento, o local escolhido foi a Escola Municipal Cristiano Olsen, a primeira fundada no município, em 1925.
“Há toda uma simbologia na escolha da escola, em razão das dificuldades que passamos nos últimos anos, como pandemia e ataques que infelizmente ocorreram. Trazer para a escola é um chamado à comunidade, para mostrar que este espaço é de todos e que acreditamos que a educação é o caminho para o desenvolvimento da população e do nosso país”, avaliou o defensor Angelo Dalben, coordenador da Regional Araçatuba.
Participação social
Uma das 72 pessoas que participaram do evento foi Eliandra Barreto, presidente do Centro Cultural Obadará Africanidade de Araçatuba, que já participou de outras edições. “Os povos tradicionais de terreiro, assim como a cultura tradicional de matriz africana, sempre trazem às conferências o tema do direito à própria identidade e a exercer a nossa cultura, sobretudo nossa religiosidade. Porém, o que queremos é justamente um Estado laico de direitos, para que possamos de fato ter uma sociedade menos desigual”, disse.
Já Solange Nery, integrante do movimento de mães com crianças com transtorno do espectro autista em Araçatuba, levou propostas sobre como defender esse público. “Nossa ideia para a Defensoria é voltada à inclusão e ao cumprimento de direitos não só de pessoas com autismo, mas pessoas com deficiência em geral.”
Este início de Ciclo também contou com a presença de jovens que cumprem medida socioeducativa de internação na Fundação Casa, como o Márcio*, de 18 anos, em Presidente Prudente, que recebeu autorização para participar do evento acompanhado de servidores da fundação.
“De nós, que vimos da quebrada, poucas pessoas têm esse leque de informações que tive hoje. Aprendi muito e nem sei como agradecer. Para mim é uma porta de entrada, começar uma vida nova daqui para frente. Só de estar aqui já é uma grande mudança na minha vida, porque, se estou aqui, é porque mudei, e acredito que, daqui para frente, é arrumar um trabalho. Eu me vejo num cargo bom de emprego, e poder ajudar as pessoas da maneira que estiver ao meu alcance”, afirmou Márcio.
Outro dos 56 participantes do evento em Presidente Prudente foi Henrique Chagas, representando a Associação Filantrópica de Proteção aos Cegos do município. Ele disse que é necessário ampliar a divulgação sobre o trabalho da Defensoria e sobre direitos. “Grande parte das pessoas não têm conhecimento dos seus próprios direitos”, disse ele, que também é advogado.
Também representando os direitos de pessoas com deficiência, Flávio Augusto Gonçalves, que tem surdez profunda e é diretor da Associação de Surdos de Presidente Prudente e Região, concedeu entrevista intermediado pela esposa, Lucinete da Silva Gonçalves, intérprete de Libras que atuou no evento. “Já participei de várias conferências, tendo acessibilidade, porque acho importantíssimo mostrar nossa identidade, ter nossa igualdade. Temos algumas ideias para trabalhar essa inclusão, com intérpretes, legendas, atendimentos públicos”, afirmou Flávio.
A preocupação com a expansão do acesso à informação sobre direitos e o atendimento da Defensoria também era preocupação de Ivonete Aparecida Alves, do Mocambo Nzinga Afrobrasil Arte e Cultura de Presidente Prudente. “Às vezes a pessoa tem direito, mas é tão oprimida em todo o sistema, desde a assistência social, educação, saúde, que acaba não se sentindo no direito de ter direito que já tem desde que nasce. E isso precisa ficar muito pautado para essas pessoas”, afirmou.