Direitos Humanos

Defensoria de SP participa de reunião do Comitê contra a Tortura da ONU na Suíça para avaliar atuação do Brasil

Núcleos Especializados da instituição produziram relatório abordando situação do Estado de SP

Publicado em 27 de Abril de 2023 às 17:51 | Atualizado em 27 de Abril de 2023 às 17:51

Defensora também participou de reunião com a delegação brasileira (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), na Missão Permanente do Brasil junto à ONU e demais Organismos Internacionais em Genebra

Defensora também participou de reunião com a delegação brasileira (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), na Missão Permanente do Brasil junto à ONU e demais Organismos Internacionais em Genebra

A Defensoria Pública de SP foi representada pela coordenadora do Núcleo Especializado de Situação Carcerária (o Nesc), Mariana Borgheresi, em Genebra para a 76ª sessão do Comitê contra a Tortura (CAT) da Organização das Nações Unidas (ONU), nos dias 19 e 20 de abril. O Nesc, em conjunto com o Núcleo Especializado de Direitos Humanos e Cidadania, atuou no processo de revisão periódica do Estado Brasileiro perante o CAT, tema da sessão, que pode ser vista aqui. Antes, a coordenadora se reuniu com membros do CAT para apresentar as principais violações de direitos destacadas em relatório que pode ser acessado aqui.

Ao regressar, Mariana Borgheresi avaliou que a incidência internacional da Defensoria representa um passo importante na atuação que os Núcleos Especializados e defensores/as têm construído para fazer cumprir a missão constitucional da instituição de promoção dos direitos humanos. “Foi muito significativo ocuparmos presencialmente esse espaço na ONU, em diálogo constante com a sociedade civil, para tratar das graves violações de direitos a que os grupos vulneráveis têm sido sistematicamente submetidos”, comentou. “As informações e preocupações que apresentamos já se refletiram nas manifestações de integrantes do Comitê Contra a Tortura durante a sessão de revisão periódica do Brasil. Esperamos que as recomendações do Comitê também reflitam as perspectivas apresentadas pela DPESP e pela sociedade civil na luta por uma sociedade livre de tortura.”

Comitê contra a Tortura

O Estado brasileiro tem obrigação de submeter periodicamente relatórios sobre as medidas adotadas para dar cumprimento ao tratado - ou seja, para combater a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Além do relatório oficial brasileiro, o Comitê da ONU também recebe entidades e órgãos independentes que atuam na defesa de direitos humanos, como é o caso da Defensoria Pública.

O relatório encaminhado pelos Núcleos Especializados da DPE-SP aborda a situação específica do estado de São Paulo - que abriga um terço da população carcerária do país - e destaca pontos de interesse para que o Comitê emita recomendações buscando incremento da proteção contra a tortura no país e, consequentemente, no estado. Entre outros pontos, o relatório aborda o veto ao projeto de lei 1557/2017, que estabelecia um mecanismo e um comitê de prevenção e combate à tortura estadual em SP, apontando a necessidade de criação de tais mecanismos em todas as unidades federativas. Também solicita que o Comitê recomende a proibição de revistas vexatórias.

A importância das audiências de custódia na prevenção da tortura é outro tema abordado no relatório, indicando a necessidade de avanço na investigação e responsabilização de agentes públicos que cometam abusos, motivo pelo qual o documento sugere recomendações como a utilização de protocolos internacionais para a colheita de provas (Protocolo de Istambul). O relatório trata, ainda, sobre a atuação de grupos táticos prisionais, como o Grupo de Intervenção Rápida (GIR) em São Paulo, lembrando o ajuizamento de Ação Civil Pública pelo Ministério Público de SP para estabelecimento de medidas mínimas de controle de suas atividades, e trazendo relatos que indicam atuações fora dos parâmetros da Convenção. Para essa questão, os Núcleos Especializados propõem, entre outras medidas, o aprimoramento do processo seletivo de agentes, capacitação em direitos humanos, identificação pessoal e uso de câmeras nos uniformes, bem como a comunicação de incursões aos órgãos de controle (Ministério Público, Defensoria e Conselho da Comunidade), preferencialmente de forma prévia. 

Agenda

Entre os dias 18 e 21, Mariana também participou, com entidades da sociedade civil, de diversas reuniões, entre elas reunião com as relatorias de Direito à Alimentação e de Extrema Pobreza da ONU; com a delegação brasileira (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), na Missão Permanente do Brasil junto à ONU e demais Organismos Internacionais em Genebra, que contou com o ministro Silvio Luiz de Almeida e a secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, defensora pública Isadora Brandão; com a Relatoria das Pessoas Defensoras de Direitos Humanos e da Violência contra as Mulheres, Grupo de Trabalho sobre Discriminação contra Mulheres e Meninas, Independência de Juízes e Advogados, Execuções Extrajudiciais e Desaparecimentos Forçados da ONU; com o Comitê de Direitos Humanos da ONU; com a chefia do Setor de Proteção para as Américas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha; com o Emler e o Grupo de Trabalho de Peritas/os sobre Pessoas de Descendência Africana e Fórum Permanente para Afrodescendentes da ONU; e com a desk officer do Brasil na ONU.