A pedido da Defensoria Pública de SP, Justiça determina realização imediata de cirurgia em mulher vítima de violência obstétrica

“Esta atuação faz parte do compromisso da Defensoria Pública de São Paulo enquanto instituição autônoma e comprometida com os valores do acesso à Justiça e dos Direitos Humanos”

Publicado em 17 de Novembro de 2014 às 08:00 | Atualizado em 17 de Novembro de 2014 às 08:00

A Defensoria Pública de SP obteve no dia 30/10 uma decisão liminar que obriga o município de Registro (a 188 km da Capital) e o Estado de São Paulo a realizarem ou custearem a cirurgia de reconstrução vaginal de uma mulher que há dois anos sofre desconfortos e constrangimentos em razão do corte em sua região genital realizado no momento em que dava à luz. 

Em agosto de 2012, Ana (nome fictício) compareceu ao Hospital São João/Apamir em trabalho de parto. Depois de longo período tentando fazer com que a criança nascesse por parto normal, o médico responsável optou por realizar o corte na região genital de Ana – procedimento chamado de episiotomia – por entender que a criança já estava “encaixada” e que não havia mais tempo para fazer uma cesariana. 

No entanto, alguns dias depois do parto, a sutura feita para recompor a região genital de Ana se rompeu e, ao retornar ao hospital, foi detectada uma avançada infecção no local e recomendada a realização de uma cirurgia para correção do problema. 

Passados mais de dois anos, ela ainda não conseguiu realizar a cirurgia. Segundo consta na ação promovida pela Defensora Pública Rafaela Gasperazzo Barbosa, foram inúmeros atendimentos paliativos recebidos pela autora, bem como diversos foram as consultas e os exames que realizou para que fosse possível a realização da cirurgia, sem que nada de efetivo tenha sido realizado até agora. “Ela vem sendo submetida há mais de dois anos a sofrimento desnecessário, que poderia ser resolvido por intervenção cirúrgica a que até o momento não teve acesso por se tratar de pessoa hipossuficiente financeiramente, e assim depender do Sistema Único de Saúde”. 

Além do processo inflamatório grave, a episiotomia mal realizada ocasionou diversos outros problemas: evacuação involuntária – e consequentemente e restrição em sua vida social; impossibilidade de trabalhar – uma vez que não pode fazer o mínimo de esforço físico; baixa auto-estima; comprometimento de sua vida amorosa e sexual; impossibilidade de pegar sua filha no colo, gastos para tratar da lesão, entre outros. 

Além da imediata realização da cirurgia, a Defensoria Pública pede na ação, ainda, indenizações por danos morais no valor de 200 salários mínimos, por danos materiais na ordem de R$5.218,00 e por lucros cessantes no valor de R$ 15.928,00. 

Cabe recurso da decisão. 

Violência obstétrica 

A Defensoria Pública de SP recebe diversos relatos como o de Ana, em razão de violências e abusos cometidos contra as mulheres em trabalho de parto. 

Para discutir o assunto, a Defensoria Publica e o Ministério Público de São Paulo promovem no dia 17/11, a partir das 9h30, audiência pública para discutir a ocorrência de violência obstétrica no país. O evento será realizado no auditório Queiroz Filho, na sede no Ministério Público, localizado na Rua Riachuelo, nº 115, no Centro da capital paulista, e é organizado pelo Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública do Estado; a Escola da Defensoria Pública do Estado (EDEPE); a Escola Superior do Ministério Público (ESMP); o Ministério Público Federal (MPF); a Associação Artemis; e a Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres. 

A audiência pretende discutir com a população as diversas formas de violência obstétrica e os caminhos que as mulheres podem trilhar na garantia de seus direitos com a ajuda do Ministério Público, da Defensoria Pública e do Poder Judiciário. Durante o encontro, serão abordados temas como direitos reprodutivos das mulheres; conscientização dos profissionais de saúde envolvidos no parto; o desconhecimento das próprias mulheres vítimas de violência obstétrica; o direito de as mulheres se oporem aos procedimentos médicos prescritos; atendimento humanizado às gestantes; a enorme quantidade de cesáreas desnecessárias, entre outros. 

Para saber mais sobre a audiência pública, clique aqui.