Núcleos Especializados da Defensoria Pública de SP emitem nota pública a respeito de grave crise orçamentária da Comissão Interamericana de Direitos Humanos

“Esta atuação faz parte do compromisso da Defensoria Pública de São Paulo enquanto instituição autônoma e comprometida com os valores do acesso à Justiça e dos Direitos Humanos”

Publicado em 31 de Maio de 2016 às 07:30 | Atualizado em 31 de Maio de 2016 às 07:30

 

NOTA PÚBLICA

Os Núcleos Especializados da Defensoria Pública do Estado de São Paulo abaixo assinados, diante da missão de promoção dos Direitos Humanos expressamente atribuída pela Constituição da República à Instituição (artigo 134), a qual abrange o acesso e postulação perante as instâncias internacionais de proteção a tais direitos, conforme preleciona a Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública (artigo 4º, VI), vêm, pela presente nota, manifestar preocupação com a noticiada situação de grave crise orçamentária da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, bem como instar o Estado Brasileiro a que, na condição de liderança regional, destine especial atenção às necessidades de fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (“CIDH”) é órgão principal e autônomo da Organização dos Estados Americanos, prevista na Carta da OEA e responsável pela apuração de casos individuais e pelo monitoramento da situação de direitos humanos nos Estados Membros.

Tem destaque o mandato conferido à CIDH pela Convenção Americana de Direitos Humanos, documento internacional vinculante ratificado pelo Brasil, que confere ao órgão a função de supervisão do cumprimento das obrigações nele estabelecidas – o que poderá desaguar no acionamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos pela CIDH.

Assim, a CIDH figura como instância essencial para a garantia do acesso à justiça internacional por parte das vítimas de violações de Direitos Humanos no Brasil, já tendo contribuído para o avanço em temas relevantes na sociedade brasileira como a violência contra a mulher (Caso Maria da Penha – nº 12.051), deficiência e saúde mental (Caso Ximenes Lopes – nº 12.237), situação carcerária (Caso Presídio Urso Branco – nº 394-02), violência policial (Caso Favela Nova Brasília – nº 11.566), infância e juventude (Caso FEBEM – nº 12.328), dentre outros nas mesmas e em outras temáticas.

Entretanto, de acordo com recentes comunicados à imprensa do órgão em questão, a CIDH atravessa profunda crise financeira que terá graves consequências sobre a sua capacidade para cumprir seu mandato e funções básicas, já tendo sido suspensas todas as visitas a serem realizadas em 2016, bem como seus 159º e 160º períodos de sessões e, ainda, podendo redundar na não renovação dos contratos de 40% de seu pessoal, que vencem ao final de julho do ano corrente.

Segundo a CIDH, trata-se também de um problema sistêmico, na medida em que a amplitude do mandato que lhe é conferido (supervisionar os Direitos Humanos em todo o continente americano) não se reflete nos recursos financeiros e humanos que lhe são destinados. Emblemático que enquanto o Conselho da Europa aloca 41,5% do seu orçamento para a promoção e proteção dos Direitos Humanos, a OEA destina apenas 6% do seu orçamento à CIDH.

Nesse sentido, e considerando que o Brasil é membro da OEA, signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos e tem compromisso constitucional com a prevalência dos Direitos Humanos nas relações internacionais (artigo 4º, II) e com a formação de instâncias internacionais de proteção a Direitos Humanos (artigo 7º do ADCT), bem como tendo em vista a relevância do País no contexto regional, é essencial que assuma postura firme pelo fortalecimento estrutural do Sistema Interamericano, realizando os repasses ordinários e os incrementando mediante aportes voluntários, além de se posicionar na próxima Assembleia Geral da OEA a favor do aumento do orçamento destinado à proteção de Direitos Humanos na Organização. .

Assim, os Núcleos Especializados da Defensoria Pública do Estado de São Paulo reforçam seu compromisso com os Direitos Humanos e manifestam apoio ao apelo da CIDH pela priorização dos órgãos regionais de defesa destes direitos, incentivando o protagonismo brasileiro neste processo como demonstração da importância que o País atribui à proteção dos Direitos Humanos no continente.

São Paulo, 30 de maio de 2016

Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos

Núcleo Especializado de Combate a Discriminação, Racismo e Preconceito

Núcleo Especializado de Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência

Núcleo Especializado de Habitação e Urbanismo

Núcleo Especializado de Infância e Juventude

Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher

Núcleo Especializado de Situação Carcerária